sábado, 29 de janeiro de 2011


Na seara dos apressados
busquei a forma, o valor,
encontrei desvalidos
e nada, nada de amor.
Contratos inválidos rasguei,
não consegui mantê-los,
não encontrei o néctar precioso,
encontrei garapas
na esplanada dos iludidos.

Sem pressa deixarei
meu contrato
a cargo do vento.
Sem esperança deixarei
minha angústia
e manterei viva a ilusão
do conforto em braços outros
para que esta me aqueça,
trazendo ao meu corpo
o hálito do amor.

por Shannya Lacerda

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Falsidade


Seara de serpentes na florada das auroras
Tetos de vidro caindo sob as velhas arcadas
Assim faz-se a argêntea felicidade
Vestindo-se de ouro às orquídeas
Escondendo as traiçoeiras amarras
Limitando o espaço que se diz grande
Abafando os verdadeiros motivos
Para alargar a contrafeito o sorriso
Estandarte da malícia e da provocação do desejo
Nos jogos vívidos, lúdicos e (in) transparentes 

por Shannya Lacerda
Natal, 19 de janeiro

sábado, 15 de janeiro de 2011

Geena: de si sobre o outro

O caos que se agrega
em meio às pessoas
é pávido, inconstante,
disperso à primeira vista,
mas não há como negar
que a pessoa
inconscientemente engendra
um modo de pensar
que parece lhe alienar,
parecendo até que o sangue
está a se engessar
de tão frio e distante
com que se lança o olhar
sobre o outro, que está
a sofrer pelas ruas
nuas de cada ser.

por Shannya Lacerda
Natal, 09/ 03 de 2010

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              Entretanto acredito que a banda podre pode ainda se humanizar, quando temos alguém que como anjo passa a nos acalentar. Sempre prontos a nos fazer rir, a nos irritar por irem eles contra a nossa vontade, mas, principalmente, por estarem lá quando precisamos. Não precisam ser eles amigos do peito. Basta que sejam anjos em sua floração de alma.


quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

MORRO DIABÉTICO

Das dobras internas vejo o mirante, donzelo semblante de linhas semirretas
Vejo após a curva um morrinho escondido entre as altas planícies
Vejo colunas a esconder o precioso tálamo
Vejo areias cordatas que se avolumam ao toque sensual dos voluptuosos dedos e é nessa hora que famigerados pensamentos interditam lancinadamente o silencio dos impulsos adormecidos e que agora com tal visão estão despertos.

Morro-me do açúcar tenso que escorre das paredes...

por Shannya Lacerda

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

SOBRE AS MADAMES E SEUS CACHORROS


Do pêlo encaracolado ou curto
surge a língua.
Língua quente, grossa, ofegante.

Da moça em pêlo (de passagem
entreaberto)
escorre

....
....
....

     O líquido prazeroso.

A função útil do cachorro,
às amantes solteiras
e aos botões sem toque,
já fora cumprida.


por Shannya Lacerda

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

MALA DE VIAGEM


Meu mundo quadrado alargou as colunas,
expandiu territórios, gerou mais fortunas,
abriu gavetas e portas circundas.
O quadrado perdeu a forma.
Abriu roda para caber mais bagagem na retumba.
O arredondado cada vez mais largo
indica cada vez mais tragos inalados.
Pus o necessário e o desnecessário
achegou-se. Não há como evitar,
apenas arrumar mais espaço pra
aconchegar mais e mais.

E assim quando nada mais coube,
me enfiei junto às recordações.
Incrível como tais ambientes trazem
inovações. Pois trazer o desnecessário
foi fácil, difícil foi caber junto minhas emoções.
E ao olhar tal rechonchudo visual
fiquei boquiaberta em perceber que sempre
cabe mais momentos na mala, mais
recordações no bolso, mais vida na mochila
e mais simplicidades no coração.

por Shannya Lacerda

domingo, 9 de janeiro de 2011

A morte do corpo vivo

Alça-se em minha mente
um sonho de morte
que teu corpo desnudo promove
deixando-me mudo.
Cego, como um girar sem mundo.

Esqueço-me de tudo
e vou indo a fundo:
do que desce infernalmente
e sobe celestial e mudamente.

Vibrar palpitante de veias dançantes
prontas à explosão;
correntes de emoção
borbulham em meu ventre.
É tanta palpitação em minha mente.
Oh propulsão
dos céus;
confusão
dos infernos.

Arrebentação, vibração, palpitação...

Não arrebentem agora!
não me deixem refém do céu,
nem tão pouco das profundezas.
Quero ater-me!

Não arrebentem! Não ainda!
Incha, incha,
mas não finda.
E se fores...
deixa-me pelo menos ainda:

        No meu peito o sopro
de morte
        Na minha mente...
tudo confuso, mas por demais forte
        No meu corpo,
o odor de morte e o cheiro de vida.

Oh céus! Joga-me ao ar
faz minhas artérias parar
ao som do forte, leve, louco e rouco frêmitar.
Oh inferno! Leva-me de uma vez.
Acaba com a agonia que escorre de minha tez.
Acaba, acaba
explode... acalma___

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26 de junho de 2009.

 por Shannya Lacerda

sábado, 8 de janeiro de 2011

"In Constansa"

Hoje quero o mundo, amanhã já não saberei dizer. Não sei se é esperar muito gostar e querer que o mundo saiba disso. Hoje quero alguém sensível, amanhã um desses cachorros imundos. Não que eu seja volúvel – instável como a brisa que corta a maré.
Um dia quero explodir em batom vermelho, noutro quero apenas um brilho discreto. Hoje quero amar, amanhã nem tanto. Hoje acredito num amor sincero. Em cinco minutos descubro que não existe nada além da ilusão, diga-se de passagem, doce. Hoje quero passear, ver o dia raiar, ou a noite cair.
As inconstâncias estão lá, mas por enquanto estou eu aqui. A desenhar um simples verso, a escrever uma simples planilha, invertendo tudo sob os compassos de meu desajuizado coração. Essa é a comarca expatriada dos versos que pulsam em meu homicida e infartado coração.
Hoje sou débil fêmea, amanhã sou a lascívia e a concupiscência em pessoa. Assim vou tecendo as teias, como fêmea que busca seu alimento e sua caça. Hoje vou esculpindo a casa dos sonhos de outrora, hoje vou rifando, adivinhando em que parte da teia você quedará e em que parte da teia desformará as amarras de minha teia.
Olhos campestre, vendo o vale;
relendo as letras de toda minha poesia.
Olhos cativos, vendo a lua;
relendo nas estrelas toda minha angústia.
Pois deixei no vale
das esperanças todo o meu coração e alma nua,
para que no vir da última onda: o vale
do meu coração, escrito na areia molhada sob a lua,
possa perder-se, apagar-se ou quem sabe grafar-se tua,
na conjuntura do teu ser, das tuas brumas, da tua alma já nua.





por Shannya Lacerda


Natal, o7, 12 de 2010

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

O risca céu: o escarcéu musical

    

     Das músicas mais lindas que vivi nunca me atrevi a questionar pontos ou vírgulas. Apenas me deixei flutuar sob a melodia que embalava meu momento, meu dia.
     Mas há também músicas a que não me dou ao trabalho, pois a ventura de elas não me impulsiona a pôr para trabalhar as cordas de minha massa, e não havendo a tal mágica elétrica em meu corpo, apenas vou. Vou seguindo o povão, agitando as poeiras do calçadão.
     É simplório, eu bem disso o sei. Porém esse tipo de música – se é que assim podemos chamá-las – exerce tal influência, que chega a ser impossível desligar-se do refrão. É como se a razão morresse e um tipo de emoção burilada invadisse o corpo e a alma.
     Tais toques, tais palavras, tais... – de que estávamos falando mesmo? De que é que as tais músicas falam mesmo? Eu só sei dizer que não há canção no “batidão”. A exemplo disso tem-se várias “geringonças dançantes”, que não as cito por educação. Só acho curiosa a cultura de nossa nação, deixando-se levar e propagando tal “porcaria” em toda dimensão.
     Não falo de vergonha. Pois vergonha é não viver por arrepender-se antecipadamente ou tardiamente de uma situação. Falo de coisas inexplicáveis, mas muito bem boladas em seu sentido existencial de o ser.
     De quando em quando se acerta um refrão ou umas notas, ou um ritmo, daí a pouco lá se vão às ruas pessoas, de estandarte (cerveja) na mão para dançar, cantar ou farrear junto às emoções libertas e emboladas pela voz do cantor.
    Mas quando a estrela risca o céu: a música se vai. As pessoas, então, órfãs pedem outro pai, ou outro rei, para tocar até o próximo verão. E assim de rei em rei, aparentemente caricaturamos o “orgulho” musical de nossas comunidades.
    O fato é que a música desse feitio não sai da cabeça; fica impregnado como perfume barato de motel – nada contra quem usa! –, ou como aquele chiclete que depois de dilacerado pela fúria dental, gruda; com uma cola curiosa: que se estica até não poder mais.
    Assim são as músicas meteóricas. Fazem sucesso – aparecem no céu –, ficam por um tempo curto – se estala no meio, centro do céu – e por fim se arrastam até conseguirem emplacar outo hit de sucesso – decliva, então, a estrela no céu em direção ao estatelamento embasbacado e pachorrento.
    Talvez essas músicas um dia sejam verdadeiramente reconhecidos como arte. Mas por enquanto é o nó apertado da população para com as gravatas de seus colarinhos.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Desejo Meu


Toma forte o meu
corpo
Rosca forte as tuas nas minhas
Carnes
Aperta forte com uma das mãos
a nuca
e a outra minha curva
Beija forte minha
boca
Mordisca devagar meu
lóbulo
Apalpa forte meus
seios
e devagar...
e forte...
devagar
até paráarr.

*Inspirado na escritora portuguesa Maria Tereza Horta e em seu livro Educação Sentimental de 1975.


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No momento em que o amor começa
 não há mocinhos, bandidos, ou qualquer coisa caricata nos alívios do mundo.
Há espamos, aconchegos, carinhos e sussurros.
No momento em que o amor começa
apenas o que se quer é que se acabem os mundos!

eu e você
e que se exploda o resto fora de nosso casulo 
- ninho de amor nesse mundo cheio de terror -
eu e você
e que se exploda o mundo
esse é o preço de nosso passional amor.

por Shannya Lacerda
25/ 06/ 2009

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011


Hoje, sensações de um rio vermelho me invadiram, atormentaram meu juízo, como formigas a buscar doce, espalhando desordem e antipatia por tudo o que não perseguiam.
Hoje, tive permutas passionais de ideia. Não sabia se deslanchava no doce sonho das colmeias ou se me deixava invadir por formigas que, em mim, procuravam algum doce!

Para os romances:

Romance, qual a definição dada à trissílaba palavra? Qual a sustentação dela? De que se lhe valem seus pretextos? As ilusões feitas. Qual a utilidade disso ou daquilo? E as cartas? As valiosas cartas de amor, onde estas se inscrevem na história?
Antes elas tinham o pretexto de levar os regalos com que a alma sonhava. Hoje, não passam de textos piegas escritos por corações esperançosos. Palavras que o vento, o tempo, a maré acham de encharcar.
Porém ainda creio que sejam elas válidas quando o meio imposto é esse para os enamorados. E nas tantas idas e vindas cheios de pecado, a carta é um símbolo. Um símbolo de que ainda há resquícios de humanidade em meio às carnes vendidas pelos açougues do mercado.



Inexistente?
Ou é como o punho a adentrar nossas entranhas
Quando o parceiro do sentimento sente zanga. 

*trecho retirado do blog www.sedasnuas.blogspot.com


Doi e ainda assim é dor que lateja, povoando os sonhos, os mundos e por que não as pessoas de coração e que escrevem sempre o profundo?

domingo, 2 de janeiro de 2011

Sorva rubros


Rubro como o vinho tinto, não há nada como os singulares sabores, às vezes, reconheço, são quase imperceptíveis; assim o é também o rio de madeixas das cabeleiras ruivas. Não há muitas vezes como diferenciar os tons, reconheço isso também, mas pode-se de antemão saber, que assim como o vinho bem feito, se a dona do fogaréu for daquelas que sem hora ou lugar passam de inocentes Belas às fêmeas fatais, pode acreditar: essa mulher será o vinho mais brando e mais ostentador que tocará o céu de sua boca, aliviando a sede implacável, fazendo correr por seu sangue o fermento mais intrigante, explodindo o universo de teu sexo.
Agora se o vinho não for merecedor de tal deguste e você o abandonar, não se impulsione a fazer o mesmo com a madeixa que indecisa vestiu-se de vinho, com o coração a pedir: –Deguste-me, serei seu mais fino capricho! Não é por mal. Não fazem por mal. O vinho e a mulher não tiveram culpa. Ambos em seu âmago apenas sonhavam com um pouco de volúpia. Um pedido incendioso, indecoroso, mas feliz em seu propósito.
Dessa forma e agora sabemos mulheres ruivas ou não, podem vestir a carapuça e servir-se de chapeuzinho vermelho à espera do lobo, que malvado comerá de seu fogo infernal. Bem como o vinho despido de si, pode sim ser o companheiro de alguém, que solitário ou não anseia passar horas degustando de sua vida junto à bebida.
Logo, pode parecer a alguém simplório, até mesmo cafona, chamar ou igualar ruivas a vinhos, mas em toda cafonice há sempre um resquício lá no fundo de intenção. E se essa for a conjugação dos verbos: aguçou bastante minha trepida imaginação! Imaginação essa que foi a mil em ver e recriar na mente gestos, lugares, bocas, pêlos, degustações e gran finals.
De todo jeito, vinho ou ruiva: o bom é degustar sem moderação mesmo, pois se não se correrá do risco da emoção não ser vertida até o fim e o mais doce néctar evaporar entre a seda e o cetim, evaporando-se por completo seu doce mel.

Conselhos para janeiro


Dribles a compostura dos tempos
para que na ânsia por novos momentos
possam eles retornar cheios de bons ventos
e para que a música a tocar seja sempre um misto de ternura e contemplamento;
reflexões de um pensamento único, crítico, ótimista e sem loteamentos
a latifundiar a breve doçura dos bons momentos.