terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Os órgãos masturbam-se
Trocam favores
E no final vence
o menos atolado de credores

Resultado: o dinheiro público
sai esgarçado do bolso de um
e de outro, indo direto aos bolsos
do órgão que gozou.

por Shannya Lacerda

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Orgia no telhado

Orgia no telhado,
estou eu a rasgar a fome do retrato;
estou a despir a garganta;
estou a arfar no epicentro de meu seio.

Orgia no telhado,
lá vou eu me afogando e embebedando
meus pensamentos, saboreando a vontade,
iludindo as sandices da realidade.

Orgia no telhado...
estou eu de mãos e dedos atados à lassidão,
corrompendo meus astros, atacando minha pele,
aflorando em demasia meus gemidos escondidos.
                                                   [a tantos dedos]

Orgia no telhado?
Hoje é você e eu...
desnudando e queimando as pedras,
os espaços!

por Shannya Lacerda

*Lauri Blank, artista americana

...................................................................................................

Céu

Tem seu cheiro baby, meus sentidos, meus sentidos sejam louvados
Tem seu cheiro baby, meus sentidos, meus sentidos sejam louvados


Beijando e correndo, beijando e fugindo
Beijando e correndo, beijando e fugindo
Sentidos sejam louvados
Sentidos sejam louvados

* Trecho da tradução da música "Heaven" dos Rolling Stones, 
em tributo a uma amiga deste blog._______________________________________



Em toda cama, cadeia de impulsos nervosos e químicos,
em cada telhado pensamentos, que giram em torno de céus amantes,
em cada vontade, corpos suados e retorcidos,
em cada suspiro, a vontade que nunca se saceia
e em cada solidão, a vontade orgíaca da lassidão.
Orgia no telhado, a vontade carcomendo os espaços, ainda sãos, ainda virgens.


Shannya Lacerda

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Das desilusões apenas autópsia

         Das maiores desilusões que se há no mundo não creio ser ela tão imbatível ou inconsolável quanto aquela em que a pessoa faz autópsia em seu próprio corpo ainda vivo e descobre que existe, que pensa, que não é só algo teleguiado, movido por paixões (in) verdadeiras, por atavios pomposos. Enfim, não é o desmanchar do casamento na porta, nos instantes últimos, não é morrer alguém para se ver o quão ruim andam as coisas. Entretanto o bucolismo proveniente dessas situações é o agente, na maioria das vezes, daquela mão que levamos à cabeça, ou melhor, daquela saída à lugares isolados, ou pouco frequentados, afim de se sentir forte o bastante para enfrentar o pior dos monstros do armário: nós mesmos.
         E daí o bucolismo virou o significante do significado triste, virou a coroa dormente da cara, virou motivo pelo qual se há o confundir de triste com consciente. Não se pode negar que realmente o motivo do olhar manso, de jeito cabisbaixo, seja de profundidade emocional, mas é, justamente, nessa profundidade que buscamos algo, algo estranhamente inerente, que chova ou faça sol está lá. Só não se sabe o que é.


        Contudo, talvez, essa melancolia, esse morgadio, não seja nada. Talvez apenas o confronto evitado a largas datas. Talvez apenas aquele exame que se adia por medo, por falta de vontade ou apenas por desapego a si mesmo.
        Seja como for o ponto das desilusões seu final é sempre quando as enfrentamos. A autópsia, inevitável; o renascer, um aprendizado.

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Esvazie-se para encher



Das folhas que se desgrudam do meu pensamento
há uma tisna que desbota de meus momentos,
como se o aroma impregnado nodoasse o fingimento
e o calor agora transcrito perder-se-ia o sentido
no curto espaço tempo da leitura e do suposto esvaziamento.


.....................................................................

                                                                                          Sob as formas


As formas sonham
toque suave
As estrelas vibram
ao beijo molhado
As melodias chispam
ao prazer harmônico
As delicadezas reinam
no amor delirante que fora gozoso
E as notas de meu piano exaurem-se
quando o olhar já brando encontra o ninho,
regressando da jornada bravia só o que deseja
é repousar no rochedo sob as frestas do luar,
ouvindo acodes e banhando-se
nas pétalas e hálito de tua pele.





por Shannya Lacerda

06/02 de 2011

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Dois em um, eu


Dois rios
         Um sentido
Dois lados
         Da mesma moeda
Duas janelas
         Na mesma casa
Duas pessoas
         Uma travessa
    Um diálogo
Duas vidas
         Um encontro, destino
Dois sonhos
         Uma quimera
Dois estados
         E a vontade certa conduzem-me a um eu
    O lado que leva e o conduzido
    O lado que chora e o que se alegra

                       Dois em estado de um é um apenas.
                       Um em estado de dois é equilíbrio, discrepância, duelo e, por fim, concordância.

         Dois no meu eu
                       É rios desaguando, guardando-se em mim.

por Shannya Lacerda

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

O amor guardo
no tempo
A lembrança
no vento
As roupas
no quadro
As mortalhas
no retrato velado

pelas sombras
que nunca morrem
pela dança
que nunca acaba

ficam apenas vagando no tempo
prontas à despertar como faca
afiada por entre as cortinas
                                                                  que determinamos como tempo.

Shannya Lacerda