Tarde chuvosa, os barquinhos
passavam pequenos, sem importância. Olhos pequenos melindravam a cena, mas não
viam destaque, não viam emoção na ação nervosa, em geral, dos comandantes
desses barquinhos. Os olhinhos se apertavam para ver magia. Não tinha nada de
real, tudo parecia um truque da TV. Alguém estava a produzir um filme nessa
chuva? Se esforçara mais, querendo ver mais por detrás da mesmíssima cor pálida
do dia e barrosa das águas que subiam.
– Isso é legal, mamãe? Olha mamãe?!
– Saia da janela!
– Não posso. Fora os barquinhos
mamãe, só vejo um homem pintado de preto. Queria ver mais; queria ver o que ele
vai fazer com aquele barquinho.
– Como assim: homem pintado? Nessa
chuva? Devem ser os lunáticos da Globo – fazem tudo por uma colocação.
E na visão daqueles olhos, só uma coisa
chamava a atenção: homem pintado de negro salvando vidas. Levava as pessoas
ilhadas de um lado a outro com seu barquinho. Rua acima, rua abaixo, o homem ia
e vinha sem estrelismos e bandeiras. O herói de seu tempo.
– Mãe, posso ser negro?
Shannya Lacerda
Natal, 15 de abril de 2012.
Hum, parabéns por esse conto!
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