Anestesiado. Adormecido.
Solto. Aéreo. Vago – em hiato.
Ando entre idas e vindas
sem ponto final.
Não sou solícito comigo
mesmo. Antes estou vazio, indeciso.
Sobro em mim: desmaio em
meus pensamentos.
Círculos, voltas.
Círculos, voltas. Círculos e voltas.
Circulo que só volta;
circulo que nem volta
– nunca saiu do lugar.
Idas, idas, idas sem
voltas: círculos sem voltas que voltam.
Anestesiado, escalo
prédios, não almejo chegar,
apenas subir, curtir o
espalmar de minhas mãos
sobre as coberturas lisas
e bem pintadas.
Aéreo. Aéreo. Ah, não
quero ser térreo;
quero vagar nas montanhas
inexatas,
quero vagar nas águas
gasosas,
onde só existe o
pensamento frágil, efêmero;
esquecer da solidez, da
rigidez que me mantém
anestesiado, aéreo. Aéreo
de mim, aéreo de tudo,
aberto ao nada, ao fluir,
ao levar ao mar de nadas.
Aéreo vou ficando. Vou
ficando aéreo. Nada mais
me resta que o perder-me;
nada mais que perdido,
mas perdido apenas do eu
que me fizeram adquirir,
comprar, usar, o eu bélico
– farda diária,
mascarada sobre feições
soltas, acabadas, sólidas.
Anestesio-me, solto-me
vago, vago em hiatos de mim mesmo
– recuperação da cor,
melhora da febre e dos
sintomas que osculam
minha consciência
doentia.
Pensar
adoece, não pensar enrijece
vago
em hiatos
de
mim mesmo.
Aéreo
A
N
E
S
T
E
S
I
A
D
O
..................
por Shannya Lacerda