segunda-feira, 14 de maio de 2012

Aéreo vago


Anestesiado. Adormecido. Solto. Aéreo. Vago – em hiato.
Ando entre idas e vindas sem ponto final.
Não sou solícito comigo mesmo. Antes estou vazio, indeciso.
Sobro em mim: desmaio em meus pensamentos.
Círculos, voltas. Círculos, voltas. Círculos e voltas.
Circulo que só volta; circulo que nem volta
– nunca saiu do lugar.
Idas, idas, idas sem voltas: círculos sem voltas que voltam.

Anestesiado, escalo prédios, não almejo chegar,
apenas subir, curtir o espalmar de minhas mãos
sobre as coberturas lisas e bem pintadas.

Aéreo. Aéreo. Ah, não quero ser térreo;
quero vagar nas montanhas inexatas,
quero vagar nas águas gasosas,
onde só existe o pensamento frágil, efêmero;
esquecer da solidez, da rigidez que me mantém
anestesiado, aéreo. Aéreo de mim, aéreo de tudo,
aberto ao nada, ao fluir, ao levar ao mar de nadas.

Aéreo vou ficando. Vou ficando aéreo. Nada mais
me resta que o perder-me; nada mais que perdido,
mas perdido apenas do eu que me fizeram adquirir,
comprar, usar, o eu bélico – farda diária,
mascarada sobre feições soltas, acabadas, sólidas.

Anestesio-me, solto-me vago, vago em hiatos de mim mesmo 


– recuperação da cor,
melhora da febre e dos
sintomas que osculam
minha consciência doentia.

Pensar adoece, não pensar enrijece
vago em hiatos
de mim mesmo.
Aéreo
A
N
E
S
T
E
S
I
A
D
O
..................

 
 por Shannya Lacerda

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