O legendário filme A Guerra do fogo de Jean-Jaques Annaud, produzido em 1981, traz aspectos de cunho social, perfeitamente aplicados em diversas áreas de nossa história atual. É intrigante ver como as recriações dos espaços do homem primitivo encarapuçam os moldes do século XXI, que com todos os avanços tecnológicos que têm em nada se difere da história decalcada dos nossos ancestrais, quando a questão era fazer emanar de si a luta pela sobrevivência, guerreando pelo objeto de poder, o fogo.
No filme, a tribo, nômade, dos protagonistas sai após um ataque à área em que se encontravam para uma região alagada de fácil emboscada e ao relento. E isso acaba por trazer à tona o raciocínio de ir em busca do elemento que traria mais facilidades à vida sofrida deles, o fogo.
E é essa busca que os leva a lugares nunca antes ido, a chocar-se com outras culturas capazes de fazê-los refletir sobre hábitos – como o mais simples deles, o riso (até então desconhecido no vocabular comportamental de sua pequena sociedade) –, além de situações da vida que até então não faziam parte de suas realidades – como a domesticação de animais para usufruí-los coletivamente.
Todavia, numa dessas andanças eles deparam-se com o processo antropofágico de alimentação (alimentação feita de carne humana) e isso lhes resulta na primeira percepção de pensamentos éticos ou virtudes para com seus semelhantes. Sendo curioso o nojo que lhes assaltam quando se apercebem de tal costume.
Talvez seja até hediondo o tocar nesse assunto, mas muitas culturas até hoje ainda mantém tal alimentação. Logicamente, o ideal alimentício mudou; agora se trata muito mais de manter os ritos ancestrais do que propriamente regozijar-se de tal iguaria.
Ademais são nessas trocas sociais que aprendem, eles, valiosas sabedorias culturais importantes para a perpetuação da espécie em meio ao ambiente hostil em que esperam prosperar.
Apesar do balance romântico que o filme remonta ao fundo, o que podemos notar é uma atemporalidade singular, cujo objetivo está em demonstrar o ciclo em que nós humanos vivemos. Seja em busca do (a) parceiro (a), do fogo, de território, de riquezas, e etc. seja pelo que for o ser humano tem a indescritível e apetecida missão de sempre buscar. Buscar o além, o “impossível”. A exemplo disso, os Estados Unidos da América é a nação que mais busca o “alheio”, depois dos impérios antigos da Grécia e Roma.
Pela nossa experiência com as letras e decalcando ainda mais a história e construção imagética do filme visto, o que podemos aferir? Um conselho à busca, à entrega, à pesquisa, à tentativa, ao erro, cujo foco é a reconstrução e, por conseguinte o acerto. O mundo está aí aberto às nossas indagações, sonhos, medos, frustrações. Mas para descobrir temos que ser os primitivos homens em busca das respostas de nossa vida, de nossa existência. E travarmos verdadeiras guerras, batalhas, em busca do que queremos e não apenas do fogo como previu o filme de Jean-Jaques Annaud.
SHANNYA LACERDA
Natal, 11 de julho de 2010.
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