domingo, 2 de janeiro de 2011

Sorva rubros


Rubro como o vinho tinto, não há nada como os singulares sabores, às vezes, reconheço, são quase imperceptíveis; assim o é também o rio de madeixas das cabeleiras ruivas. Não há muitas vezes como diferenciar os tons, reconheço isso também, mas pode-se de antemão saber, que assim como o vinho bem feito, se a dona do fogaréu for daquelas que sem hora ou lugar passam de inocentes Belas às fêmeas fatais, pode acreditar: essa mulher será o vinho mais brando e mais ostentador que tocará o céu de sua boca, aliviando a sede implacável, fazendo correr por seu sangue o fermento mais intrigante, explodindo o universo de teu sexo.
Agora se o vinho não for merecedor de tal deguste e você o abandonar, não se impulsione a fazer o mesmo com a madeixa que indecisa vestiu-se de vinho, com o coração a pedir: –Deguste-me, serei seu mais fino capricho! Não é por mal. Não fazem por mal. O vinho e a mulher não tiveram culpa. Ambos em seu âmago apenas sonhavam com um pouco de volúpia. Um pedido incendioso, indecoroso, mas feliz em seu propósito.
Dessa forma e agora sabemos mulheres ruivas ou não, podem vestir a carapuça e servir-se de chapeuzinho vermelho à espera do lobo, que malvado comerá de seu fogo infernal. Bem como o vinho despido de si, pode sim ser o companheiro de alguém, que solitário ou não anseia passar horas degustando de sua vida junto à bebida.
Logo, pode parecer a alguém simplório, até mesmo cafona, chamar ou igualar ruivas a vinhos, mas em toda cafonice há sempre um resquício lá no fundo de intenção. E se essa for a conjugação dos verbos: aguçou bastante minha trepida imaginação! Imaginação essa que foi a mil em ver e recriar na mente gestos, lugares, bocas, pêlos, degustações e gran finals.
De todo jeito, vinho ou ruiva: o bom é degustar sem moderação mesmo, pois se não se correrá do risco da emoção não ser vertida até o fim e o mais doce néctar evaporar entre a seda e o cetim, evaporando-se por completo seu doce mel.

2 comentários:

  1. Não é a toa que o vinho tem tanto essa ligação com a noção de néctar, de doce mel e também de sangue. De toda forma, sempre atiça os sentidos, cora as faces e impulsiona os mais inusitados desejos. Esse texto me lembra um pouco de Baudelaire, em "Paraísos artificiais". :^) Beijo!

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  2. Agradeço muitíssimo tal comparação e creio que seja esse o intento, o feitio do prazer encorpado através do líquido!

    obg pela visita e bjins

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