quinta-feira, 28 de março de 2013

Tempestanejar em copos




Como pode você chamar de drama
meu samba
se vós nada mais és
uma sombra pálida
arrastada, eivada;
não sobrou em você nada
que se compare,
que se sinta,
que se ame, deseje.
Tu és o caco, o foço
e de nada servirá teu esforço
me conter? Nem com lágrimas
nem à força.
Supere. Me aguente.
Não arrebente.
Supere. Vença o medo de me deixar
transbordar, de transpassar seus muros.
Não me aprisione
me libere, me deixe ir ao fundo,
pois ao voltar do mergulho
saberei, como sobreviver
às tormentas, às represas,
ao medo
ao nada
a você.

Por Shannya Lacerda
Natal, 28 de março de 2013.


quarta-feira, 6 de março de 2013

Impotência





O sangue lambe as veias
freneticamente conspurcada
de um veneno escriturário a correr o íntimo

A inteligência faz desfazendo os arroubos
sobretudo é difícil pensar criar
com alma inflamada
o ópio instaurado mina o ócio deflagrado
desfraldando a amnésia da memória

O par da rima fronda-se na inspiração
O rifar ímpar na inteligência,
razão e conjunto
no veneno inflamado dos nervos ao tendão
que segura a caneta freando e impossibilitando  
a reles e ordinária comoção.

Por Shannya Lacerda
Natal, 07 de março de 2013.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

De: Meus pedaços/ Para: Mim.


Com um ziguezague nas palavras
vou chicoteando, driblando,
camuflando meu falar, minhas máscaras;
vou compondo meu destino
ainda sempre por traçar;
vou projetando um devir a imprimir de fora
o avesso da máquina faustuosa;
vou afastando-me,
para dar vazão ao pedaços, estilhaços
dos eus de mim. E no jogo cotidiano
as rimas sob os dedos vou contando:
não passam de uma farsa,
não passam de um eu de pedaços
– engendrados por um mim.


por Shannya Lacerda
Natal, 26 de novembro de 2012.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

O caso da terra




A ponta da estrela mais forte
lança-se no vale mais doce
É imperativo que ribombe
– o vale que aceite
os montículos desnudam seus picos
Toda a energia da estrela
deita-se, amassa-se sobre a terra
A terra frágil aceita
– apenas deixa rolar as águas
Mas a estrela acabou morrendo-se
A terra em sublimação: floriu-se
esqueceu as tragédias anteriores
lembrou-se de outrora:
o brilho sorridente da estrela:
re-caiu-se de amores

Agora: só lembranças
– colheita das flores, dos frutos, dos sabores
A estrela apagou-se

A terra floriu-se,
abrigou outras estações
forneceu casa, fez festa
pra seus moradores
Vive agora dos bens,
dos campos e dos ardores
– todo dia uma estrela:
com novas pontas, vigores.


por Shannya Lacerda
Natal, 09 de novembro de 2011.

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Flores para quê?






















Flores amábilis
Flores gentis
Flores das pequenas mortes
                                   [e das senis
Flores das sepulturas
Flores da infância
            Da ganância
            Da atmosfera das aparências
            Das incontinências
Flores para disfarçar as raízes
Flores dos meus dias
            Aquelas que nunca quis te dar
Flores das poesias
            Das mesquinharias
            Conversa particular
            Aquela que trago ao braço
            Suplantando as palavras, as ações, o meigo olhar
Flores gentis – sorriso
            De Judas
            De morte
            De pálidas figuras.
Flores, flores, flores-serás?

por Shannya Lacerda
Natal, 09 de novembro de 2012.