terça-feira, 29 de junho de 2010


Convite às dúbias águas


Vem viajante do além-mar
no seio das terras tupiniquins se acostar,
ou no ventre potiguar
– de belos contornos – se enovelar.

Vem viajante destemido
naufragar teu barco desvalido
nos recifes e corais deste exultante mar;
vem ater-se às costas, os rochedos desse mar,

que sofre inebriantes ondas de calor
sufocados nesse mar.
Cálidos ataques de onda
sobrepujando o impassível ar.

As ondas batendo. Se arrebentando.
É um convite caliente
aos que vem chegando,
no intento de desbravar esse mar ardente.


Shannya Lacerda
Fevereiro de 2010.

domingo, 27 de junho de 2010

TEXTO DE UM ANÔNIMO

PERGUNTA DEMOLIDORA


Um homem estava sentado no avião, ao lado de uma menininha. O cara olhou a criança e lhe disse:
- Vamos conversar? Tenho certeza que a viagem parecerá mais rápida. O que você acha?
A menina, que acabava de abrir um livro para ler, o fechou lentamente e respondeu com voz suave:
- Sobre o que gostaria de conversar?
- Bom, não sei... - disse o homem. - Que tal física nuclear? - e mostrou um grande sorriso.
- Bem,- disse a pequena - Esse parece ser um tema interessante. Mas antes, gostaria de lhe fazer uma pergunta: o cavalo, a vaca e a ovelha comem a mesma coisa: capim, não é mesmo? Porém, o excremento da ovelha é um monte de pequenas bolinhas, o da vaca é uma pasta e o do cavalo é um monte de pelotas secas. Por que o senhor acha que isto acontece?
O cara, visivelmente surpreso com a inteligência da menina, pensou durante uns momentos e respondeu:
- Hmmm, não faço a menor idéia...
E então, a menininha disse:
- Sinceramente, como o senhor se sente qualificado para discutir física nuclear, se não entende
de bosta nenhuma ???

 PS: A inteligêngia e a perspicácia se fazem muito mais fluidas a partir de uma boa leitura... Incentive os outros ao seu redor a lerem também, daí teremos um mundo muito mais denso para compartilhar!

Autorizo repassar o texto a seus amigos e publicar em blogs, jornais, etc... James Pizarro, 21/junho/2010

*OBS: Na imagem há o nome Argentina, mas superemos essa falha na imagem e lembremos do último jogo (25/06/2010) da seleção: Portugal 0 X 0 Brasil.

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DUNGA, UM HOMEM DE VERDADE !

James Pizarro

www.professorpizarro.blogspot.com

O Dunga foi capitão da seleção, lembram ? Xingava todo mundo e exercia liderança absoluta sobre seus colegas dentro do campo.
Para que a comissão técnica conseguisse bom comportamento do Romário durante a Copa botaram o mesmo a dormir no quarto do Dunga. Romário até hoje diz que o melhor amigo que ele teve na Seleção foi o Dunga, porque lhe deu sempre bons conselhos e conversavam horas a fio.
Foi capitão no Internacional de P. Alegre, do qual saiu porque reclamou duma diferença de 400.000 reais que não lhe pagaram. Abandonou as chuteiras, entrou na justiça e teve ganho de causa. E fez uma doação dos 400.000 reais para uma instituição de caridade de P. Alegre que atende crianças com câncer.
Qual jogador que faria isso nesse bando de mercenários que anda por aí ?
Como técnico tem suas convicções e delas não se afasta.
É viril, sim, como foi dentro de campo. Todo mundo sabe que, fora do campo, é uma moça tímida. Mas se transforma num guerreiro quando defende seu trabalho e suas convicções.
E exerce total liderança entre os jogadores, cada um deles com o Ego maior do que um transatlântico. Depois da partida contra Costa do Marfim, quase quebraram nossos melhores jogadores. Queriam que Dunga recitasse poemas parnasianos na entrevista ? Chamou alguns críticos de filhos da puta. E daí ? Alguns são mesmo !
É um homem de verdade o Dunga. Num país habitado quase por fantoches e marionetes.
Como é honesto, é criticado.
Como é direto e coerente, é chamado de grosso.
Como não adula jornalista, é sabotado.
Como caga e anda para a crítica, é odiado.
A Globo que crie vergonha e critique a roubalheira que ocorre no país, sem medo de perder as verbas publicitárias dos Correios, Caixa Econômica e demais órgãos estatais.
E deixe o Dunga trabalhar em paz.

sexta-feira, 25 de junho de 2010


Oficina poética

Algo acontece, marteladas soam;
o óleo escorre, o fluído se esvai;
o amassado some, volta a se amassar
(de forma agora de fora para dentro).
É o poeta injetando a soma de plaquetas
em sua oficina substancial.

O brilho volta a sua lataria antes comprometida,
a linha volta a dar contornos suaves
ao amassado carro. O dono volta a se contentar,
o médico automotivo volta à contentar-se,
ao gozo: trouxe à luz mais um... O seu tempo,
porém, acabou. O mesmo digo ao poeta que
aqui (nesta oficina) deixou suas plaquetas,
e aqui (neste borrão branco ou cinza), sua vida.

Shannya Lacerda
Natal, 14/ 06 de 2010.


Ilusão VII


Amar, ter devaneios, criar
uma atmosfera borbulhante
e esperar o príncipe chegar;
escolher roupa, cabelo, comer...
fazer isso, aquilo só pra satisfazer

uma ideia, uma projeção
cativante de alguém; que a longos
passos não está nem aí
para o que se a de fazer ali
no espelho, na cama ou na pia,

ou até mesmo nas finas coxias.
É puro prazer mental
pensar em agradar,
pensar em mostrar uma Amélia

perfeita. Nada disso o satisfará
se não for a Sabá que encontrar.
Pode até não ser, mas pode a vênus

metamorfosear e um raio de luz
encobrir a verdade, e a Amélia
virar: a Salomé, a Helena e quantas

mais com o desejo a volúpia sonhar.
Pois é ilusão as redes que tecem
o gozo e os caprichos sexuais do coração.

Shannya Lacerda
Natal, 25/ 06 de 2010.

sábado, 12 de junho de 2010



    Adaga: desejo e morte

Corpos sobrepostos
imitam a estética da adaga,
que independentemente do feito,
tende a dar cabo do prazer,
paradoxalmente levando
à morte os casais.

A alva fêmea por baixo, adornada,
reluz a brancura pálida da luz da lua.
O macho por cima a beijar o vale
entre as pontiagudas montanhas.
É o cabo da adaga, que se liga
ao afiado gume por meio do falo
e a partir disto, num frêmito
intermitente, o prazer se avoluma.

O inferno de músculos acopla-se
ao céu dos desejos, pensamentos;
juntos perfuram o tempo e ao sangrar
o voluptuoso e vadio destino,
chegam juntos ao gozo.

Céu e inferno tocam o ar,
já é hora de deixarem-se morrer,
despregarem-se no ar.
Matam o desejo, mas matam-se
no próprio ato de se matarem!


Shannya Lacerda,
11/ 06 de 2010.
 facaria


A faca: pequeno instrumento
que tirou o homem do primitivismo.
Mas a faca não deu ao homem,
infelizmente, a capacidade de discernir.

Leva muitos à cova, ao topo,
à saciedade, à angústia, ao desespero:
tempero da desolação.
Fura, corta, escalpela, estripa: os fatos, o coração!

É adereço sexual de alguns. Significa
utilidade a outros. Significa medo
para uns. Poder a outros, mas sempre
encerra, em si e por si só, um significado.

A faca suja-se de sangue,
não há como limpar-se;
assume-se violenta:
não se pode descuidar!

A faca: macabra...
A mão que a doma: doméstica,
serviçal de seus abusos de mestre.
O poder que a alça: dividido,

entre a vontade e a fadiga de estar
sempre em uso dialético e constante.

Shannya Lacerda
Natal, 11/ 06 de 2010.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Uma pequena homenagem ao excêntrico gato Johnn Depp, que completa hoje (09/06/2010) 47 aninhos...haja saúde e resistência....

Ossos
 


Numa teia, cadeia
de ossos juntos
postulo um amontoado
indigno, o indigente
até pouco tempo digno,
hoje uma amarelo ressequido,
um grão insignificante
aos vivos, entretanto
um prego sem cabeça,
só ferro dolorido
na carcaça atingida,
atravessando a garganta
sempre alheia,
sempre esquiva,
sempre inatingida,
contudo de forma estranha,
sempre atingida;
pois o leão sempre
abarca a cabeça
que se afugenta,
que se nega a ver.

Os ossos juntos
não significam
saúde, não significam
saudade; podem
significar algo,
mas de minha parte: nada!

Shannya Lacerda
Natal, 28/ 05 de 2010.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Posição

Poderia ser hipócrita e dizer:
gostei do que vi, vivi,
mas prefiro dizer que com-
partilho com as impressões
deste mundo incógnito,
avaro e simplesmente
(simploriamente) belo...

É engraçado ver como o cal
que inibe as faces e entor-
pece as paisagens deixa trans-
parecer, não sem a custo de
muito sal, a singularidade
dos homens. E pensando assim
te digo agora o que mexera
comigo nesse texto: a infante
Verdade, o cáustico ato de
expor e se expor em gotas no mar...


shannya, 05/ 06 de 2010.

sábado, 5 de junho de 2010



De Clarice à estrela

A hora da estrela,
ah essa estrela...
quem a esquece?,
quem esquece a
inesquecível Macabéia
em todas as suas peripécias?,
quem se esquece
de suas ingênuas
canduras frente ao
malandro do amor?,
quem se esquece da
Clarice, cuja escritura
imortalizou a meninice
ruralizada da protagonista,
cujo papel foi ascender
estrela enquanto morria.

Ou será que o virou
antes por não saber ela
o que fazer no mar
paulista, que não
(ou)
ensina os nordestinos a viver.

Macabéia, minha velha
nessa hora que você
virou estrela eu tentei
pôr uma constelação
inteira só para ti aquecer.
– Palavras de clarice
despertas sobre suas
eternas e ingênuas
meninices.


Shannya Lacerda
Natal, 26/ 04 de 2010.
Tautólogo

Eu repito, repito
e apenas repito
aquilo que acho
que nunca haver-se-á
dito sobre o “não dito”.

Simplesmente, o que creio
não ter sido dito
é aquilo que com certeza
me instiga a dizer.

Mas se vejo o que penso, dito:
desdigo e digo novamente
aquilo que pensava
eu ser inédito e que,
portanto me faria ter o crédito.

Ser reconhecido como gênio,
ou apenas ter o aplauso do intelecto,
seriam recompensas
a elevar o moral de meu ego,
ou o meu indiscreto eu.

No entanto, o que digo
nunca é novo!
É apenas mais uma
repetição amistosa
ou regressiva de escrever
a mesma melodia fria,
que um dia pensara eu
em escrever.

Shannya Lacerda
Natal, 21/ 04 de 2010.