segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Desilusão

A desilusão vem de todos os cantos.
A desilusão está em todos os cantos.
A desilusão é o próprio canto.
Ela é a ilusão desfeita;
despedaçada, qual pétala
de rosa em punho cerrado;
quebrada como vidro,
esfolada como um corte no baço.

A desilusão grita de um canto
de dentro de nós, que não tem espaço
definido, tem apenas a nostalgia
de um sonho lindo que (por insensatez) se acaba.
Porém a desilusão não significa
o fim de tudo, mas um recomeço.

A desilusão no peito continuará,
porém não mais terá o mesmo sentido,
pois mudar-se-á de estação a visão turva;
o significado agora de dor, dará lugar
ao esquecimento, ao amarelamento
das páginas vivas da memória.

A desilusão não significa que algo externo
quebrou, mas que mudou-se a visão do
terreno, do fumê à cor. No começo inculta,
depois e cada vez mais sábia nossa vida
vai se quebrando e reconstruindo, até que um dia...
se quebra de vez! E dessa vez a quebra não virá
de fora, mas do suspiro de nossa consciência a
nos alarmar sobre os dissabores dos erros.

A desilusão abre o mar de água,
que não cessa, suspira sussurros, bafos na janela.
No vidro a lágrima rolando, no peito a dor corroendo.
E assim a dor vai migrando, levando-se embora
pela janela, onde deitam-se as águas,
e esta imóvel deixa-se ser o apoio, o amigo
leal, que nas horas vadias espia o mundo
e nas tristes vela o rio que escorre, que vaza
insano, que decai-se em pranto.

A desilusão, doce ilusão, ato de iludir-se para não dar vazão à razão!


por Shannya Lacerda
Natal, 19/12 de 2010.

Um comentário:

  1. Aqui estive mais uma vez e como sede, sempre voltarei, para beber da sensibilidade dos seus posts.
    Abç

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